Neste momento, Dunga acaba de conceder sua primeira entrevista como novo treinador da Seleção Brasileira. Está de volta ao cargo que deixou em 2010, depois da derrota para a Holanda. Tudo isso faz pensar.
Se o objetivo era fazer justiça a um treinador que teve uma boa performance e caiu pelo simples fato de que, desde Zagallo 1970, nenhum treinador brasileiro terminou uma Copa no comando da Seleção e continuou no cargo até o início da próxima, faz sentido.
Por sua vez, o novo comandante traz um histórico de turra que faz pensar no fracasso brasileiro na África do Sul. Sua imagem de desolação após o gol holandês de Sneidjer retratou bem aquele momento – não havia um jogador no banco que pudesse mudar a partida. E passou da conta com a agressividade em relação à imprensa, embora boa parte dela não seja flor que se cheire e, há muito, mereça umas boas palmadas morais. Resumo da ópera: por mais que tenha se esmerado no papel de ogro em 2010, Dunga pagou o preço de desafiar a Rede Globo fechando treinos e acessos – seu antecessor liberou as transmissões e, por isso, seu trabalho foi chamado de bagunçado.
Que Dunga pode vir a fazer um novo bom trabalho, não tenho dúvidas.
Mas sinto curiosidade na reação dos jornalistas.
Afinal, os mesmos que chamavam Scolari de ultrapassado e receptor do prêmio que era treinar a Seleção, depois de várias jornadas sem sucesso, terão que atacar Dunga pelo mesmo motivo: praticamente não atuou na função desde o 2 x 1 da Holanda, teve uma breve passagem malsucedida pelo Inter. Isso se quiserem mostrar alguma coerência, fato raro em se tratando de imprensa esportiva do Brasil.
Ainda paira no ar o desconforto pela posição de Gilmar Rinaldi como coordenador.
Por outro lado, e se Dunga tivesse tido a chance de se reabilitar mantido no cargo em 2010? Será que teríamos um novo Joachim Low? Ressalte-se que o gaúcho conquistou títulos, enquanto o alemão precisou de oito anos de espera até levantar a sonhada Taça FIFA.
Uma nova história começa. Difícil saber se ela vai até as Olimpíadas, antes ou mesmo até o topo do mundo em 2018. Não deixa de ser engraçado imaginar que a volta de Dunga, até mesmo desafiadora pela própria natureza, seja fruto do conservadorismo que cerca nomes como os de Marín e Del Nero.
Em tempo: Dunga foi um jogadoraço, teve muitos acertos e erros como treinador da Seleção, mais de uma vez na vida foi crucificado pelos meios de comunicação. Agora, inegavelmente mostra que é um homem de muita sorte: do perseguido de 1990 ao grande capitão campeão de 1994, tem novamente uma chance de reescrever sua história. Caso consiga dar a volta por cima outra vez, merece livros a seu respeito.
@pauloandel