Dia de final sempre me deixou elétrico. Hoje, estou imerso numa calma muito estranha, quase que uma tranquilidade de monge. Claro que tive um ou outro pesadelo durante a semana com o jogo, mas nada que não se resolvesse no despertar, que sempre ocorria com a seguinte frase na cabeça; “calma, pois domingo vai ser Vasco 3 x 0”.
Acho que essa calma vem do fato de, ao contrário do que a grande mídia quer colar na gente, não termos nada a perder.
Como assim, Jorge? Você pirou? Como não temos nada a perder?
Não tendo. Nosso time não é favorito para jogo algum, embora os flapressistas insistam na ladainha que jogamos com o time completo contra um “misto” da carniça. Somos o time carioca na Série B (se a Portuguesa deixar…). Temos tudo para ser a zebra.
Não ser favorito não implica em entrar em campo derrotado. Isso nunca. O Vasco, apenas, é dono do “patinho feio” dos elencos brasileiros, com um time formado por veteranos ou jogadores que andavam esquecidos, como Guiñazú e Douglas; por gringos de menos expressão, como Martín Silva (que ninguém aqui conhecia antes da Libertadores do ano passado) e Aranda; por atacantes de brilho duvidoso, casos explícitos de Edmílson e Éverton Costa; e por gente que busca surgir ou ressurgir, explicitamente os zagueiros Rodrigo e Luan.
Pois bem, esta combinação acabou dando certo, embora até o técnico fosse outro renegado (e trapalhão metido a professor Pardal), o Adilson Batista, de trabalhos muito inconstantes. Embora eu não goste do esquema de jogo que ele adotou, tenho de admitir que, no decorrer da temporada e especialmente nos jogos contra os grandes, o time foi aprendendo a atuar no 4-3-3 dele e, hoje, a equipe consegue jogar de igual para igual com todos os clubes do Rio – e só perdeu um clássico porque foi assaltado em campo.
Talvez minha tranquilidade venha do desempenho do time nos clássicos, sempre focado e aguerrido. Hoje, mais uma vez, espero um Vasco brigador e com o espírito de superação. E adoraria saber que a frase com que tenho acordado deu liga. Mas isso só vou saber mais tarde. Agora, vou apenas continuar com essa estranha calma…
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Já me perguntei de onde vinha a calma. Pode ser que venha do fato de eu estar no Rio no próximo fim de semana, para assistir à finalíssima, graças a uma passagem adquirida quando minha mãe ainda estava viva. Não foi por coincidência que programei esta viagem – na época em que adquiri, em janeiro deste ano, tinha certeza que o Vasco iria à decisão.
Por que minha presença seria assim tão importante numa final? Simples: porque, no estádio, sempre vi o Vasco ganhar mais finais que o Flamengo. Quer ver só?
A minha primeira final de Campeonato Carioca foi em 1977, aos 12 anos. Levado pelo meu pai, fui assistir Vaso 0 x 0 Flamengo, jogo de desempate do segundo turno daquele ano – a Taça Guanabara já tínhamos faturado em cima do Botafogo. Por uma destas facetas da sorte, ficamos nas cadeiras atrás do gol, já que o velho não me levava na arquibancada de jeito nenhum, vejam só, por medo da violência das torcidas. Foi justamente no gol onde foram cobrados os pênaltis e ali, quase na minha cara, vi Mazaropi voar e espalmar o pênalti do então garoto Tita, para depois o jogador Roberto Dinamite sacramentar a vitória e o meu primeiro titulo em campo.
Demorou cinco anos para vir o 2 x 0. Com a morte do meu pai, minha mãe não me deixava ir sozinho ao Maracanã (coisa de mãe que nasceu nos anos 1920….) e só consegui a alforria em 1982, quando andava com uma turma grande do colégio. Na ocasião, fomos ver Vasco 1 x 0 Flamengo, gol de Marquinho, e eu, ao lado de grandes vascaínos, como o professor Carlos Alberto Rabaça e seus filhos, e do ítalo-brasileiro Umberto Corradin, torcedor do Milan hoje um profissional de destaque na Motorola, fiquei na lateral do gol do título, assistindo à jogada por um ângulo privilegiado.
Só em 1986, naquela decisão desastrosa do Lopes de se defender nos dois primeiros jogos e atacar apenas no final do terceiro, é que conheci a primeira derrota em finais. Que foi plenamente compensada em 1987, quando assisti ao gol do Tita ao lado da Cláudia Raia, na Tribuna de Honra do Maracanã – para triplo azar dela, além de torcer para o Flamengo naquele dia, a bela ainda estava com o Alexandre Frota e não comigo…
O 4 x 1 em finais veio em 88, ao lado de um ex-amigo tricolor, que queria me colocar a faixa antes do gol sensacional do Cocada. Depois, Flamengo e Vasco passaram anos sem decidir nada, até 1999 e 2000, quando eu estava em Brasília e não pude ir à final. Só voltei em 2001, nos dois jogos, a vitória do Vasco por 2 x 1 e aquele maldito 3 x 1 do jogo seguinte. Também não pude ir em 2004 e, assim, o placar final é de 4 x 2 para o Vasco, com duas vitórias seguidas para uma derrota. Ou seja, vamos ganhar esta e mais outra final, antes de conhecermos qualquer derrota em finais para o Flamengo.
Afinal, a vida é minha e a estatística, também.
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Só uma coisa me causa receio hoje: a arbitragem.
Não só eu… Um amigo desta coluna escreve um desabafo indignado. Reproduzo abaixo na íntegra, por concordar com 100% dele…
Eh normal?
Vasco e Fla empataram nos dois confrontos do Brasileirão de 2011. Os cruz-maltinos brigavam ponto a ponto com o Corinthians pelo título e foram prejudicados nas duas partidas contra o maior rival, ambas apitadas por Péricles Bassols. Ele ignorou pênaltis claros nos dois confrontos. No primeiro, que acabou 0 a 0, Léo Moura derrubou Bernardo na área já nos últimos minutos da partida.
Na segunda oportunidade, já na última rodada, o puxão de Willians na camisa de Diego Souza foi visto por quase todos os presentes ao Engenhão, mas não pelo juiz do duelo, que terminou 1 a 1. Se tivesse vencido os dois jogos contra o Flamengo, o Vasco seria campeão brasileiro daquele ano.
No primeiro confronto entre Flamengo e Vasco no Maracanã depois da reforma para a Copa do Mundo, a jogada mais polêmica aconteceu logo aos 11 minutos do primeiro tempo. O meia Douglas, que estreava com a camisa cruz-maltina, cobrou falta com perfeição, ela bateu no travessão e tocou no chão 33 centímetros além da linha de fundo. Mesmo com um auxiliar ao lado, a arbitragem não validou o gol. Pouco depois, em nova jogada polêmica, o árbitro acertou ao dar o gol de Elano para o Rubro-Negro, que venceu a partida por 2 a 1. Nos dois próximos domingos, os dois times podem acrescentar novos capítulos a uma longa lista de polêmicas.”