Eu já ou vi ou li em algum lugar que a indústria aeronáutica quando analisa um desastre aéreo, quase sempre chega à conclusão de que não foi um único fator que causou o sinistro, mas sim um conjunto de erros e equívocos que se propagam até que o desastre ocorra.
Difícil escrever alguma coisa sobre o Vasco nesse momento terrível pelo que estamos passado. Então eu peço licença a você, meu leitor, para expor o que acho sobre tudo que estamos passado, para mostrar quais, na minha opinião, foram os erros que nos levaram a esta situação calamitosa em que nos encontramos.
Findo o ano de 2014, o “novo” presidente dispensa vários jogadores (que a meu ver mereciam sair mesmo – a única exceção que na minha opinião deveria ser preservada, era o Edmilson, artilheiro do time no ano passado), contrata um novo técnico fugindo da mesmice dos técnicos com que ele normalmente gosta de trabalhar, contrata mais alguns jogadores e consegue formar um bom time para o Campeonato Carioca.
Um time suficiente para enfrentar as inúmeras e insossas partidas contra equipes pequenas que o Cariocão proporciona. Boas atuações contra os rivais nos clássicos que, a exceção do Flamengo, também remontavam suas equipes. O Bota vindo de uma “terra arrasada” e o Flu aprendendo a viver sem o seu “padrinho”.
Bom time mais alguma sorte e a classificação com um ou outro susto para a fase final era algo esperado. Batalhas contra o Flamengo e por conta de grandes atuações do nosso goleiro chegamos à final contra um surpreendente Botafogo. Vencemos porque nosso time naquele momento era melhor e depois de quase 12 anos veio o título esperado.
Claro que ser campeão é ótimo, mas hoje me parece que o título nos trouxe mais malefícios que benefícios… Não pelo título em si, claro, mas pelo efeito que ele causou naqueles que hoje dirigem o Vasco.
Pensou-se que o time era suficiente para não fazer feio na longa e dificílima série A do Campeonato Brasileiro. Aliás, para fazer feio não! Para ser campeão, como adorava bravatar o nosso “messias”.
Vieram as primeiras rodadas e o mesmo time que fora campeão carioca empatou 3 vezes seguidas contra Goiás, Figueirense e Internacional o que, juntando-se aos 2 empates pela Copa do Brasil contra o Cuiabá, deu início à crise.
Digno de nota por aqui também alguns agravantes que vão além dos resultados ruins. Acabado o campeonato carioca e o nosso “messias”, como é de seu feitio, se achou no direito de bravatar, de querer aparecer mais que a própria Cruz de Malta dizendo que o Vasco brigaria pelo título, que “o respeito voltou” e blá blá blá… Atitudes que não levam a absolutamente lugar algum e além disso só deu armas para sermos mais e mais motivo de chacota dos rivais.
Outro fato digno de nota nessa fase inicial do campeonato, para a qual eu sinceramente eu não tenho resposta, foi a fraquíssima presença da torcida vascaína. Pouco mais de 7 mil torcedores na estreia em casa, depois de ser campeão de um campeonato que não vencia há muito tempo, num jogo que, convenhamos, eram muito boas as chances de vencermos… Para mim nesse jogo contra o Goiás era para termos 15… 18 mil pessoas em São Januário.
E aí iniciamos a série de derrotas em série… Um vareio de bola contra o Atlético-MG em Minas, uma derrota mais que merecida contra a Ponte Preta em casa (mais uma vez com São Januário às moscas…), nova derrota contra o Atlético-PR em Curitiba…
Antes de prosseguir com a série de derrotas, mais uma causa: o goleiro. Sofremos muito com a falta de goleiros na nossa última queda. Nosso goleiro titular fora pela convocação para a Copa América, assume a camisa 1 contra a Ponte Preta o reserva imediato: Jordi. Num lance que qualquer outro goleiro faria o mesmo, ele apelou para a falta e foi expulso. Só que sua expulsão, inexplicavelmente, se perpetuou para os jogos seguintes e tivemos que aguentar o inseguro terceiro goleiro Charles por mais alguns jogos. Ora… Se ele era o terceiro goleiro, por que mantê-lo? Falhou em alguns jogos e sua insegurança era clara.
Seguimos perdendo e a nossa diretoria começou a se mexer e mais uma vez o estilo bravateiro se fez presente anunciou jogadores que não vieram e trouxe refugos fora de forma que até poderiam ser interessantes num início de temporada.
Se é que existe uma receita para ser rebaixado, com certeza um dos itens é “trazer jogadores fora de forma para se entrosarem durante a competição.”
Novas derrotas contra Cruzeiro e Sport, chegando a cinco derrotas consecutivas e Doriva pede o boné e nos deixa. Aí vem talvez o maior erro desse equívoco histórico que foi a reeleição dessa diretoria. Escolheu um técnico que há alguns anos nos desprezara, que a meu ver não deveria nunca mais pisar em São Januário a não ser como adversário, de preferência sob intensas vaias.
Juntou-se a enorme pressão pela situação péssima no campeonato, um técnico que é fraco, ultrapassado, que expõe os jogadores e com um histórico de desafetos entre os jogadores; vários “novos” jogadores chegando fora de forma, sem entrosamento e tendo pela frente uma tabela duríssima contra os primeiros colocados do campeonato de então. Ou seja: tudo para dar errado.
Uma vitória contra o Fla que foi enganosa – não jogamos nada e achamos um gol. Outra contra o fraquíssimo Avaí e alguns (como eu…) pensaram que as coisas iriam se encaixar…
Ledo engano… Novas derrotas em série contra Chapecoense, São Paulo e Grêmio nos trouxeram à realidade de um time perdido, sem qualquer padrão, sem qualquer forma de jogar, que não conseguia repetir sequer uma vez a escalação, com jogadores tentando ganhar ritmo de jogo e entrosamento jogando contra times já formados e superiores.
Um alento contra o Flu, muito mais por algo sobrenatural do que qualquer explicação racional, e voltamos a perder em série para Palmeiras e Corinthians.
As rodadas que tinham sido cruéis conosco – cruéis muito mais por nossa falta de planejamento do que pelos adversários em si, nos dá um alívio: 11 dias para pararmos e tentarmos juntar os cacos. Mas como fazer isso com um técnico que não inova? Que é péssimo? Que é ultrapassado?
Primeiro jogo depois dessa “mini-inter-temporada” contra o “saco de pancadas” do campeonato Joinville, em casa, num Maracanã cheio e não conseguimos passar de um empate jogando mal e ainda tomando sustos.
O “messias” bancou ainda mais o seu técnico e chegamos à derrota de ontem. Resumo: 19 rodadas, 12 derrotas e 4 empates, com um saldo negativo de 23 gols, com um defesa que já tomou 30 gols…
O desastre se consumou ontem. Há chances matemáticas, mas aprendi nesses mais de 40 anos que acompanho futebol que na maioria das vezes a Matemática não vibra na mesma frequência que os jogos.
Nossas chances são ridículas e melhor seria, se houvesse um pingo de dignidade do “messias” que ele pagasse a sua promessa e fosse para a Sibéria, junto com toda a sua trupe de puxa-sacos e sócios fantasmas que o reconduziram à presidência.
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Peço desculpas àqueles que nessas minhas colunas eu me dirigi pedindo para comparecer aos jogos. Não vou contra o Flamengo. Há um limite entre o racional e o irracional. Nesse último jogo eu ultrapassei esse limite e passei mal.
Quando isso tudo deixa de ser um divertimento para ser um sofrimento é necessária uma parada para respirar.
Sei que estarei bem representado pelos que forem, mas essa eu passo. Pelo bem da minha saúde.