Não esqueço das palavras de meu amigo Antonio Leal numa conversa no Centro Cultural da Justiça Federal, centro do Rio, onde a turma hoje mata à faca nos arredores.
Conversávamos sobre futebol, dos sentimentos, dos céus e infernos que os torcedores vivem aos primeiros triunfos e percalços pelo caminho.
Ele comentou a citação de alguém, algo sobre o questionamento se nós, brasileiros, gostamos mais do sentimento de vencer do que propriamente do futebol em si.
Algo para fazer pensar e muito.
É claro que todos querem ganhar. Mas o jeito como a coisa é tratada acaba levando para um caminho funesto. Venceu, é herói; não venceu, é um pústula. E que se dane se o derrotado foi um grande campeão: pústula!
Ninguém pode deixar de lado que os grandes times brasileiros têm suas longas trajetórias marcadas por conquistas. Existe cobrança, pressão, tudo o mais. Mas não custa lembrar que, com exceção de um único time no Brasil, ninguém é pré-campeão ou pré-vencedor. Do outro lado, seja grande ou modesta, uma equipe também tenta a vitória com a mesma vontade.
Outra vertente: gostar do time do coração pode ter múltiplas interpretações, mas todas elas de alguma forma passam perto de ficar junto, do lado, coisa de cão e dono. A proximidade. A intimidade. O prazer de chegar cedo ao estádio, olhar o campo, a movimentação da torcida, os preparativos, as crianças empolgadas, tudo isso não faz parte do cenário do futebol?
Torcer precisar ser uma coisa raivosa, colérica, onde só a vitória interessa e o resto é lixo não reciclável?
Não.
Gostar do time, do escudo, ler livros, pesquisar a história, relembrar os grandes feitos, aprender nas dores, ver beleza no processo, tudo isso é desimportante no futebol?
Não.
É muito mais do que um jogo. Muito mais.
Quando você torce por um time, o compromisso é muito maior do que cantar de galo nas vitórias e sumir nas derrotas.
Meu amigo Antonio Leal sabe das coisas. Quando você pensa nas coisas boas em torno do futebol, as ruins ficam até mais palatáveis: as tramoias dos dirigentes, os negócios inescrupulosos, os subterrâneos do esporte.
Ainda consigo lembrar das minhas grandes partidas como torcedor na infância. São elas que dão algum sentido à esta vida louca, onde qualquer um desaparece com facadas em vão ou balas perdidas que encontram o trajeto da irracionalidade.
Publicar esta opinião num site vascaíno, dado o momento atual (que será passageiro), poderia até parecer sugestão de fuga da realidade, mas somente aos olhares menos atentos. Aqui, disse exatamente o contrário. A torcida move um time justamente quando ele passa por dificuldades, mesmo que momentâneas. Quando está ganhando, qualquer avulso sazonal ou deslumbrado se torna o primeiro da fila para comprar o ingresso, mesmo que não esteja entendendo absolutamente nada daquele enredo, cenário e peça.
Gostar de um time é muito mais do que vibrar exclusivamente nas suas vitórias. Senão, nem seria futebol, mas novela das oito – ainda que a detentora dos direitos de transmissão insista em igualar duas coisas tão diferentes.
Ainda bem que não é.
@pauloandel
Imagem: diretodacolina.wordpress