Deprimente, sob todos os aspectos, a entrevista do Presidente do Vasco, Eurico Miranda. Confrontado com suas fanfarronices, Eurico justificou como motivadoras as frases que proferiu durante todo o ano e pôs na conta de Dinamite a maioria dos seriíssimos problemas que encaramos neste ano.
A torcida do Vasco não merecia mais este espetáculo de arrogância e pedantismo. Durante quase uma hora, uma imprensa amedrontada perguntou obviedades para o Rei-Sol e lhe deu a oportunidade de exibir-se ante as câmeras. As respostas satisfizeram apenas os seguidores da religião.
O ápice: Eurico disse que a responsabilidade do rebaixamento do Vasco é dele. Mas não a culpa. (Que ele atira para a gestão Dinamite)
Fui ao Aurélio para buscar as definições das duas palavras.
Culpa:
1 – Conduta negligente ou imprudente, sem propósito de lesar, mas da qual proveio dano ou ofensa a outrem;
2 – Falta involuntária a uma obrigação, ou a um princípio ético;
3 – Delito, crime, falta;
4 – Transgressão de preceito religioso; pecado;
5 – Responsabilidade por ação ou por omissão prejudicial.
Responsabilidade:
1 – Qualidade ou condição de responsável
Responsável:
1 – Que responde pelos próprios atos ou de outrem;
2 – Que responde legal ou moralmente pela vida, pelo bem-estar etc;
3 – Que tem noção exata de responsabilidade, que se responsabiliza pelos seus atos, que não é iresponsável;
4 – Que dá lugar a, que é causa de (algo);
5 – Pessoa responsável (por alguma coisa ou alguém);
6 – Indivíduo faltoso; culpado;
Ou seja, neste jogo de palavras (engolido pela imprensa despreparada), Eurico tentou se eximir da culpa do rebaixamento, se dizendo apenas o responsável pela desgraça. Infelizmente para ele, lá no finalzinho da definição do Aurélio, as palavras se tornam sinônimas.
Um constrangimento totalmente desnecessário para os Vascaínos. Mais um motivo de deboche pros demais.
Testemunhei aquilo torcendo para que acabasse sem maiores consequências. Sem viradas de mesa, brechas em regulamentos. Aparentemente foi assim que acabou. Mas infelizmente estava tudo ali. As bravatas, as pausas para suspense, o olhar superior. O pior é a subserviência e o medo com os quais é tratado pelos jornalistas.
Não há mudanças no horizonte. Continuaremos no fundo do poço, cavando mais um pouco. Talvez cheguemos a Tóquio, não para disputar o mundial, mas por conta do tamanho do buraco em que nos metemos.
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No dia sete de dezembro de 2013, Flamengo e Cruzeiro faziam, no Maracanã, uma partida isolada da última rodada do Campeonato Brasileiro. Ambos cumpriam tabela, pois habitavam o meio da classificação. Este jogo de final de campeonato, sem qualquer interesse, virou pivô de um dos maiores escândalos do futebol brasileiro. O Flamengo escalou um jogador suspenso – André Santos – e como punição perderia quatro pontos, o que permitiria ao Vasco rebaixar o Flamengo se ganhasse o seu jogo contra o Atlético Paranaense, no dia seguinte. No dia seguinte, numa coincidência única na história do futebol mundial, a Portuguesa de Desportos, o único clube (tirando os arquirivais Vasco e Fluminense) que poderia salvar o Flamengo do descenso pela pontuação que ocupava na tabela, cometeu o mesmo errinho do Flamengo, escalando Héverton irregularmente.
Imagine jogar em Joinville sabendo desse fato. O Vasco, praticamente rebaixado, poderia não só se salvar, mas rebaixar o Flamengo em seu lugar.
Ninguém ficou sabendo disso. Apesar de amplamente noticiada na sexta-feira dia 6 e no próprio sábado, dia 7, ninguém, de nenhum veículo de comunicação, percebeu que o Flamengo havia escalado um jogador suspenso. Tal esquecimento durou dois inacreditáveis dias. Não há menções a André Santos até a terça-feira, dia 10, quando explodiu a notícia da escalação irrregular de Héverton. Ai, no subtítulo, ressurgiu André Santos.
Se você quiser comprovar isso, faça o seguinte:
Busque “André Santos” (com as aspas) no google.
Quando aparecerem os resultados, clique no botão cinza “ferramentas de pesquisa”.
Vão aparecer caixas embaixo do botão.
Clique em “em qualquer data”.
Escolha “intervalo personalizado”: de 08/12/2013 a 09/12/2013 (o domingo da rodada e a segunda seguinte).
Você verá que não há nenhuma matéria citando a irregularidade. Nenhum jornalista esportivo do Rio de Janeiro percebeu. Nem os que escreveram as matérias na sexta e sábado anteriores. Por quarenta e oito horas.
Agora repita a pesquisa, trocando para a terça-feira, 10/12/2013. Pois é. Todo mundo lembrou.
Há nessa história toda dois escândalos juntos.
O primeiro é o da incrível coincidência das escalações irregulares.
O segundo é o comportamento da imprensa. Quarenta e oito horas de total silêncio sobre um fato público que teria influência gigante nos jogos daquele fatídico domingo. Imagine: “Vasco pode rebaixar Flamengo se vencer hoje”. Mas, claro, você não viu esse texto. Ninguém viu.
Por isso, aquela barbárie em Joinville tinha de terminar a qualquer custo. Adiar o jogo do Vasco era dar mais tempo para que esse fato surgisse.
As coisas se encaixam.
O ministério público de SP, que investigou o fato, afirmou que houve corrupção na escalação de Héverton pela Portuguesa.
Mas há muitas perguntas sem resposta:
- Quem escalou André Santos?
- Quem corrompeu a Portuguesa?
- Quem coordenou o silêncio de toda a imprensa sobre André Santos por inacreditáveis 48 horas?
Fomos pivôs dessa história sem saber.
Pablo Armero está ai, desaparecido do time e da mídia. Ninguém investiga.
abraços
Zeh