Pra quem não conhece São Januário, essa foto é tirada da entrada das sociais, ao lado da secretaria do clube, onde estão as listas de cidadãos teoricamente aptos a votar na eleição de 6 de agosto. De 11 de novembro. De 6 de agosto. De 11 de novembro.
A foto é da segunda-feira passada, quando lá estive para saber sobre a minha condição de sócio. Sobre o balcão, duas listas de sócios. Uma impressa em 03/07 e a outra em 16/07. Papel. Cerca de cento e cinquenta páginas impressas, rubricadas uma a uma por três pessoas. Não se disponibiliza, nem pros candidatos, uma versão digital. É proibido fotografar as listas. Não existe o campo email nas listas. Só endereço.
Prum clube que ainda se comunica via telegrama com seus associados, nada que devesse causar espanto. Vi outro dia, em Brasília, um telegrama recebido na véspera vindo do Vasco da Gama. Não me lembro quando havia sido a última vez que havia visto um. Sinais incontestes da decadência técnica – acidental ou proposital – do clube para o qual torcemos.
Mais pro meio da semana, uma visita a um amigo na Tijuca me levou à rua do América. Resolvi ir até a porta ver o que estava acontecendo. Deparei-me com esta cena:
Acho muito difícil que o América se recupere de mais essa tragédia. E vivendo o momento que vivemos, me resta mostrar o que acontece por lá como um alerta a nós, vascaínos.
Por causa de um projeto, passei a acompanhar o América. Me juntei, uns quatro meses atrás, a duas comunidades americanas no facebook. Estão vivas. Milhares de pessoas. Muitos fanáticos, tão loucos quanto os mais aloprados vascaínos que você conhece. E mesmo assim o clube deles está falecendo. Claro, esse não é um processo de dias ou meses. É um processo lento e gradual de destruição de um patrimônio do Rio de Janeiro.
Dá quase pra ver que alguns de nós devem estar, se chegaram a ler até aqui, furiosos comigo porque eu certamente estou comparando o nosso grande Vasco da Gama com o América. E é isso que mais me mete medo. Precisamos sim olhar o exemplo tenebroso que se passa na nossa cidade, nas nossas barbas, em plena luz do dia. Em plena Copa do Mundo, o América fechou a sua sede para a construção de um Shopping Center. A sede que foi a mais moderna sede de clube da América do Sul quando de sua construção nos anos 70 fechou suas portas.
O exemplo está ali. Berrando. Totalmente ignorado pela mídia.
Agora olhemos para o nosso clube. Vejam o que nos ocorreu nos últimos dez anos. Encolhemos. Perdemos o respeito dos adversários e da imprensa, ainda que artificialmente. Pior, os responsáveis pela entidade Vasco da Gama perderam o respeito por nós, vascaínos comuns.
Estive em São Januário no sábado passado, numa maravilhosa tarde de verão em pleno inverno. Uma hora e meia antes do jogo, fui a um dos muitos banheiros das arquibancadas, atrás do gol. Tive de ouvir piadinha de um senhor para fazer essa foto (“Vê lá se não vai fotografar o bilau de alguém”)… Boa!
O banheiro já estava nesse estado deplorável que vocês vêem. Não há crise financeira que justifique oferecer para o seu próprio torcedor, para mim, pra você, um banheiro em condições tão absurdas quanto as que que encontrei. É um exemplo do desrespeito do clube para com o seu maior patrimônio. Nós. A falta de dinheiro não é justificativa para que não se tenha cuidados mínimos com aquilo que os vascaínos levaram tanto tempo pra construir. E essa sujeira se reflete em cada notícia veiculada sobre nosso clube.
Uma entradinha no ginásio mostra que ele aparentemente virou um galpão. E já parecia “arrumado” para a eleição de hoje que, graças a Deus, foi adiada. Pra onde você olhe em São Januário você vê sinais da decadência que vem sendo imposta ao nosso clube. Parque aquático. Pintura da cobertura das sociais. Até o túnel inflável de entrada, o “trem-bala”, está em mau estado. Manchado de sol, parecendo imundo.
Mas depois vem o jogo. E mesmo não tendo uma equipe à altura de nossa história, nós estamos lá. E São Januário, ainda que maltratado, é um estádio espetacular com uma vista maravilhosa do Rio de Janeiro. É nossa casa.
Não precisamos de muita coisa para nos reerguermos ao patamar devido, coerente com nossa história. Precisamos de um líder que nos reconduza ao nosso rumo. Reveja, por favor, a foto do banheiro. Veja, amigo, a recepção que as pessoas que mandam hoje no clube prepararam para a gente.
Lembre de tudo o que vivemos nesses últimos dez anos. Já se passaram onze anos do dia em que vi Léo Lima cruzar de letra pra sermos campeões cariocas. De lá pra cá, bravatas, contratos rompidos, jogadores se desligando e indo para rivais gratuitamente, perda completa da credibilidade, encolhimento moral…
Estamos tendo a grande chance de um “segundo turno” das eleições. Três meses para refletir no futuro que queremos. Para olhar pro lado e ver o América, ver quem nos apequenou nessa última década.
Que nós possamos dar a vasquinhos como esse ai a chance de ver o que os pais dele viram. Precisamos providenciar uma limpeza física e moral no nosso clube. A hora é essa. Temos três meses para refletir e fazer.
CASACA!
abraços,
Zeh