São 1h04 desta segunda-feira, e só agora sento para escrever alguma coisa. Perambulei pelo Rio, conversando com amigos aqui e ali. Mas, antes de escrever, fiz questão de entrar no chuveiro e tomar um banho. Não para ficar limpo. Isso eu já sou. Tomei banho para tirar de mim a sujeira que assola o futebol carioca, perpetrada pelos constantes erros de arbitragem.
Ontem, no Maracanã, eu vi um bandeirinha errar um impedimento de 69 centímetros. Mais que o dobro do erro do auxiliar Rodrigo Castanheira, que não viu a bola entrar 33 centímetros no primeiro Vasco x Flamengo do ano. O mesmo bandeirinha estava presente nestes dois lances cabais, e foi incapaz de fazer o seu trabalho.
Esses erros grotescos e absurdos talvez expliquem um pouco a ausência de comemorações e zoadas. Andei, por mais de seis horas, por diversos bairros cariocas e não vi um torcedor rival vir “tirar farinha” comigo. Todos na sua, alguns comemorando em constrangedor silêncio o título que veio em um roubo escancarado, debochado, ridículo.
Aliás, só vi dois torcedores rivais envergando uma faixa. Uma era do Flamengo. Outra, no peito de uma jovem, no Leblon, era uma faixa do Vasco, escrita vice de novo. Essa reza na cartilha do Felipe, o goleiro que se regozijou por ganhar roubado, dizendo ser “mais gostoso”. Felipe que, em 2010, foi acusado de bater na sua então companheira. Ou na cartilha do “treinador” Jayme de Almeida, que preferiu minimizar a garfada e dizer que o Vasco “sempre coloca a culpa em alguma coisa”.
A essa gente, meu desprezo e meu silêncio são mais eloquentes, assim como o que dei a um querido colega de trabalho que me mandou nada menos que 12 mensagens de “segunda divisão” e teve coragem de negar o escandaloso e criminoso impedimento. Não vou ensinar ética, pois isso já fizeram aqui, em colunas anteriores.
Prefiro ficar com a opinião de Mauro Cezar Pereira, jornalista e torcedor do Flamengo, que, na ESPN, disse o seguinte:
Vai todo mundo sacanear o torcedor do Vasco, e está sacaneando com esse negócio de vice. Mas foi um absurdo o impedimento, uma bola parada, um escanteio e o bandeirinha parado não viu. Não é possível, que bandeirinha é esse gente? O Márcio Araújo estava hiper, mega impedido, o bandeira estava ali para isso, é pago para isso, comprometeu todo o trabalho do Vasco. O Vasco tomou uma garfada, enfiaram a faca e rodaram. Foi a segunda no campeonato, e no jogo que não pesou depois na classificação, o Flamengo fez mais pontos que o Vasco, mas foi uma derrota que aconteceu no erro do Castanheira, que não viu a bola entrar, mas hoje foi um momento decisivo. O bandeirinha não pode errar aquilo ali, mas dizer “ah, é difícil”. Se é difícil, fica em casa e vê pela televisão, vai fazer churrasco com os amigos e não vá se meter em bandeirar futebol. Foi um erro muito grave mesmo, é meio constrangedor para o torcedor do Flamengo mais equilibrado e menos fanático ver o time ganhar dessa maneira, foi um absurdo. O Márcio Araújo está impedido com quase 70 centímetros, e o bandeirinha no escanteio tem que estar na posição correta para ver e não conseguiu ver, o Márcio Araújo está sozinho na frente, um erro grave. Foi um título emocionante para o torcedor do Flamengo, mas separando o lance e vendo isso aí, é brincadeira, um erro muito grave. O torcedor do Vasco que está cuspindo muita abelha africana, como diria o Apolinho (Washington Rodrigues), tem todos os motivos do mundo. O título era do Vasco, jogou melhor, finalizou mais, teve mais posse de bola e o Flamengo jogou só em contra-ataque e empatou no final num erro muito grave de arbitragem. (…) É uma grande decisão marcar um pênalti. É a mesma coisa você errar um impedimento como esse. Errar com um placar de 5 a 0 num campeonato não muda muita coisa, mas nos acréscimos? Foi uma punhalada muito dura que o torcedor do Vasco levou , e não vou dar parabéns a Flamengo nenhum não, vou falar do Vasco, que foi novamente garfado hoje , e o torcedor tem todo motivo do mundo para ficar irritado.”
Precisa falar mais alguma coisa?
Ah, precisa: parabéns ao jogador Márcio Araújo, que reconheceu a irregularidade de seu gol, embora tenha tentado refrescar o bandeira Luiz Antônio Muniz de Oliveira.
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Recebo uma convocação para estar presente no protesto que a torcida do Vasco fará hoje, às 17h, na Cinelândia. Não estarei no Rio, e se estivesse, não iria. De nada adianta isso. A não ser para colar em nós o injusto rótulo de chorões, que vai ser colado pelos Flapressistas.
A atitude a ser tomada também não é disputar o Campeonato Carioca, como chegou a aventar o presidente Roberto Dinamite. Até porque, em 2015, ele não estará mais na cadeira.
E qual seria a atitude?
Simples: enquanto este for o esquema, dispute-se o carioca com reservas. Dispute-se para não chegar, apenas para manter o time na primeira divisão estadual. Reserve-se o 11 vascaíno a competições que interessam, como o Brasileiro, a Copa do Brasil e a Libertadores, na qual não temos o hábito de cair na fase de grupos.
Boicote. Essa é a palavra.
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Infelizmente, como tudo leva a crer que o Vasco voltará às mãos do senhor Eurico Miranda, ainda mais após o crime cometido ontem, que deve levar uma pitada de irracionalidade a mais no processo sucessório em São Januário, veremos, ano que vem, o clube colocar força máxima nesta competição esvaziada pela casta de cartolas incompetentes, que estão encarapitados há décadas na Federação do Rio de Janeiro. Pior: talvez, “por um milagre”, as arbitragens passem a ser mais corretas nos jogos do Vasco – isso se não começarem a agir da forma tendenciosa que atuam hoje quando o jogo é do Flamengo.
O triste será ver que alguns vascaínos irão achar bonito sermos beneficiados. Não é. Precisávamos apenas das marcações corretas. Isso nos garantiria mais uma taça do carioca na sala de troféus. O de hoje, por exemplo.
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Em campo, o Vasco foi soberano. Jogou como campeão. Dominou o jogo do começo ao fim. E a torcida fez sua parte, embora tenha exagerado no olé. Saímos castigados não pela injustiça do futebol (esta seria se a bola que tocou na trave entrasse direto, pois aí seria gol legal), mas pelo assalto à mão armada (com uma bandeira).
Adilson escalou o time que podia, desfalcado do Edmilson e sem o Everton Costa. Inventou ao trocar Reginaldo pelo Barbio e demorou a lançar o Bernardo. Mas este é o Adilson e, sinceramente, mesmo achando ele um técnico abaixo do Vasco, mudei de ideia e vou defender sua manutenção no restante da temporada. Ele tem o plantel na mão. Não sabe muito bem o que fazer com ele, mas os jogadores estão fechados com o treinador, e isso faz a diferença.
Jogador, quando quer, vence pelo técnico, por pior que ele seja.
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Li o desabafo publicado antes desta coluna, mas discordo frontalmente dele.
Acho que a mim cabe torcer, me esgoelar e protestar. Quarta-feira, às 19h30, estarei em frente à TV, assistindo Vasco x Resende, pela Copa do Brasil. Sábado, às 16h20, estarei na frente da TV assistindo a Vasco x América-MG, na estreia da Série B.
Sou torcedor.
Podem me roubar, mas eu não desisto. Amo a camisa branca com faixa diagonal e cruz de malta desde o ventre de mamãe.
Por isso, não desistirei jamais do Vasco. Nunca rasguei ou rasgarei bandeira ou camisa do clube. Elas estão acima de mim. São mais importantes que eu. Sempre serão.
Eu passarei. O Vasco, nunca.