Toda democracia é maravilhosa desde que, ao final das discussões, haja alguém para dar um murro na mesa e decidir.
Estão fazendo um xoxoxó imenso (e o espertalhaço está ganhando minutos e mais minutos de mídia gratuita) por causa de um episódio no qual o Eurico está cobertíssimo de razão. Um barco a remo não anda se os integrantes, por melhores que sejam individualmente, não estejam remando de forma sincronizada e coordenada. Em qualquer empresa do mundo, a diretriz de rumos é estabelecida por seu comandante, e todos os demais devem seguir e trabalhar por este fim. Então, não faz nenhum sentido que um jogador diga que o time vai brigar por posições intermediárias se a diretriz do clube é brigar pelo título.
Inclusive, em nenhum momento o Eurico afirmou que o rumo foi decidido apenas por ele. Afirmou, sim, fanfarronica e egocentricamente como sempre, para deleite dos que o odeiam, que a decisão do presidente do clube (da empresa, do boteco, da padaria, do grupo político, da quermesse da Igreja, do Clube da Luluzinha etc) deve ser acatada pelo resto dos integrantes da equipe, esteja o elemento em que posto estiver.
Não se está pondo em questão se o Vasco pode ou não brigar pelo título brasileiro – algo que já parece um devaneio. Mas sim o consenso que deve existir em qualquer instituição acerca dos objetivos a serem buscados. Ainda que seja muito saudável que se queira sim brigar pelo título. Questão de mentalidade.
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Sempre achei muito interessantes as reuniões de condomínio. No primeiro prédio em que morei logo depois de casado, me tornei logo próximo do síndico e de seu conselho. Vinte e seis apartamentos. Reunião marcada, carta entregue a todos os condôminos com a antecedência necessária. Seis, oito presentes. Não havia quórum suficiente para nenhuma decisão importante. Até que um dia surgiu a ideia.
Na reunião seguinte, convidou-se os condôminos para a reunião para tratar de vários assuntos. Dentre eles, o aumento imediato de 150% da taxa condominial. Só faltou sair tapa para entrar. Não me lembro o número exato de presentes, mas a renda foi altíssima. Será a prova de que o aumento dos ingressos não afugenta as pessoas do estádios? Pode ser. Sei lá.
Morei então num outro prédio, em Copacabana, com 120 apartamentos. A síndica era uma senhora – como me custa usar este termo brando para me referir a ela – dos seus setenta e muitos anos, perfeitamente lúcida, uma déspota em seu trono. A reunião era o “show” de sua gestão (um desastre) no prédio. A média de condôminos se mantinha. Cerca de vinte compareciam em média às reuniões.
Na primeira a que fui, meu queixo quase caiu. Foi posto em discussão determinado assunto. As pessoas se pronunciaram, eu inclusive. Abriu-se então a votação. A síndica então estendeu quarenta e duas procurações e pulverizou a vontade dos presentes com o seu séquito de fantasmas. Claro, ela queria o contrário da minha vontade. Por meses a fio eu e um grupo reduzido de opositores ficamos catequizando um morador aqui, outro ali, até que um dia conseguimos destituir a ditadora. Enquanto isso, em todas as reuniões possíveis, esse nosso grupo esteve presente para questionar qualquer dos absurdos que ali eram ditos, ainda que, naquele momento, não houvesse nenhum sentido prático em estar ali. Ela já sabia que tinha oposição e via-se em seus olhos que aquilo a incomodava. Além disso, as decisões dela eram tão absurdas que com o tempo fomos conquistando outros condôminos pró síndica, que passaram a enxergar a realidade dos fatos e se bandearam para o nosso lado. Trabalho de formiga.
Tudo registrado em ata. Para a posteridade.
As histórias são 100% verídicas.
Pra que eleger uma oposição se no primeiro momento mais importante – e aparentemente absurdo – da atual administração ela se faz ausente e se manifesta por meio de uma carta? Por que não foram lá cumprir seu papel e protestar, reclamar, fazer barulho, atrair mídia? Será que uma carta faz mais efeito do que trinta (ou quantos pudessem estar) presentes? Será que dai não se podia cativar um elemento do Conselho, que fosse? O que será que pensam dessa atitude os eleitores que votaram na oposição?
Eurico teve um voto contra. Uma pessoa votou no Vasco.
Nada mudou. Nem na situação, nem na oposição.